28 de janeiro de 2014

Capítulo Onze

“She wants to go home, but nobody's home that's where she lies, broken inside. With no place to go, no place to go. To dry her eyes broken inside.” - Nobody's Home, Avril Lavigne. 


Eu estava a mais ou menos vinte minutos sentada dentro do meu carro tentando controlar minha respiração e a ânsia de vomito que tomava conta de mim. Nunca pensei que a casa onde fui criada e que me trazia tanta segurança agora me causava repulsão. Depois de ensaiar uma saída pela milésima vez, percebi que jamais estaria pronta para aquilo de novo. Foi quando decidi que não poderia fazer aquilo sozinha. Peguei minha bolsa que estava no banco do passageiro e tirei meu celular de dentro. Depois de chamar algumas vezes, finalmente atenderam.
- Joe? – minha voz falhou e nessa hora notei que minha garganta estava seca.
- Demi, o que aconteceu? – o tom era de preocupação.
- Eu estou a meia hora parada em frente a minha casa Joe e eu... Não consigo. – disse sem rodeios.
- Você disse que seus pais não estariam em casa. – ele relembrou o que disse a ele quando o informei que iria até minha casa.
- Eu sei, mas e se estiverem? Como vou encará-los?
- Você vai ter que enfrentar isso um dia. – o jeito como ele disse deixou a frase mais branda.
Mordi os lábios, respirei fundo e criei coragem.
- Será que você poderia vir até aqui?
Houve um breve silêncio antes da resposta.
- Estou aí em alguns minutos.
Não demorou nem dez minutos até o momento em que avistei a moto de Joe estacionando bem em frente ao meu carro. O vi saltar da moto e tirar o capacete ao mesmo tempo em que eu saia do carro e acionava o alarme.
- Vamos? – ele disse assim que se aproximou.
Eu apenas assenti com a cabeça.
O caminho até a porta da frente da minha casa nunca me pareceram tão longos e a cada vez que me aproximava, mais sem ar eu ficava. Quando minha mão alcançou a maçaneta respirei fundo e girei. Assim que entrei foi como estar revivendo cada momento daquele pesadelo. Tinha acontecido ontem, mas agora pareciam décadas.
A atmosfera da casa estava diferente. Gélida e sem vida. Como se o próprio imóvel também estivesse sentido por tudo o que aconteceu. Subi as escadas com Joe em meu encalço e estranhei o fato de nenhum dos empregados ter aparecido. Certamente ganharam um dia de folga, pensei.
Depois de entrar no meu quarto agi rapidamente. Peguei duas malas grandes e comecei a colocar minhas roupas e pertences pessoais dentro delas. Joe apenas me observava. Talvez ele nunca consiga imaginar o buraco que se instalou em mim naquele momento. Antes de deixar meu quarto dei uma última olhada para trás. Eu nunca mais o veria.
Joe me ajudou com as malas enquanto descia as escadas e eu já conseguia sentir a tensão me deixando e dando lugar ao alívio. Cedo demais. Assim que pus os pés no último degrau da escada ouvi a chave girar na porta e em poucos segundos minha mãe entrou em meu campo de visão me fazendo congelar no lugar onde estava e subitamente parar de respirar.
- Filha? – ela disse de maneira quase inaudível. Não consegui dizer nada. – O que são essas malas? Você está fugindo?
- Fugindo? – eu perguntei de maneira irônica. – Não, eu estou indo embora mesmo.
- Querida essa é uma atitude muito precipitada e eu...
- Precipitada? – eu a interrompi. – Você não pode estar falando sério!
Ela baixou a vista e deu um passo na minha direção e de maneira totalmente inesperada Joe fez o mesmo de modo a se por quase entre mim e ela.
- Você não pode ir embora, Demi. O que vai ser de mim sem minha única filha? – seus olhos começaram a lacrimejar.
- Tenho certeza que você vai se virar bem. – respondi secamente.
- Não fala assim...
- Como você quer que eu fale? – perguntei e sem notar já elevava o tom da minha voz. – Aliás, me diga como você acha que eu devo agir depois de tudo o que aconteceu?
Ela não disse nada, porém as lágrimas começaram a rolar livremente por seu rosto.
- Não me diga que você pensou que eu voltaria pra casa e nós viveríamos felizes para sempre! Acho que os seus remédios controlados estão começando a afetar sua sanidade, mamãe. – eu disse essa última palavra com repugnância. Ela levou as mãos ao rosto e seus soluços se tornaram mais alto. – Sabe, essa pode ser a explicação perfeita para suas amigas: “Oh, não foi nada, eu tomei uns remédios muito fortes e fui pra cama com o noivo da minha filha!”
- Para com isso! – ela pediu entre soluços.
Mas eu continuei meu teatro, imitando seus trejeitos e zombando-a sem piedade.
- Eu não pensei na minha querida filha um só instante porque eu sou uma puta egoísta!
Aconteceu muito rápido. Nem os reflexos de Joe conseguiram impedir. Quando dei por mim já estava jogada no chão, sentindo meu rosto formigar.
- Você me bateu? – perguntei incrédula. – Você, além de tudo, ainda tem coragem de me dar um tapa na cara?
- Eu não queria, me desculpa... Eu... Você começou a falar essa coisas e ... Me perdoa! – minha mãe estava praticamente implorando meu perdão, mas eu não conseguia sentir nada pela mulher chorosa a minha frente.
- Saiba que daqui pra frente eu não tenho mais mãe nem pai. Sou órfã! – levantei do chão e peguei minha mala. – Não venha atrás de mim, pois eu não conheço mais você!
Sai daquela casa com um peso no coração. Joe colocou as malas no porta-malas, mas ao chegar perto de mim percebeu que eu não conseguia abrir o carro, pois minhas mãos tremiam incontrolavelmente.
- Ei, acho melhor eu dirigir. – ele disse com a voz doce pegando a chave da minha mão. Eu concordei com a cabeça e dei a volta no carro para sentar no banco do carona.
- Desculpa. – Joe disse antes de dar partida. Olhei pra ele sem entender. – Por não ter evitado o tapa.
- Não tem problema. – eu respondi sincera. – Estava precisando dele pra perceber que tudo não foi um pesadelo e que essa é realmente minha vida.
Joe nada respondeu. O resto do caminho de volta passou como um borrão perante minha vista. Minha mente estava longe e nem mesmo eu sei por onde ela vagava. A única coisa de que eu tinha certeza naquele momento era de que toda a minha vida iria mudar, eu só não fazia ideia do quanto.


Continua...

* "Ela quer ir pra casa, mas ninguém está em casa. É onde ela se encontra, arrasada por dentro. Não há lugar pra ir, não há lugar pra ir, secar suas lágrimas arrasada por dentro."

n/a: OLÁAAAAA AMORES!!! VOLTEEEEEI!  Que saudade que eu tava daqui! <3 Então, como vão as coisas? Já voltaram a estudar ou ainda estão de boa na lagoa come eu? hahaha Gostaram da pirralha, digo, minha irmã? :D Bom, está ai mais um capítulo desculpem a demora mas as coisas tendem a se normalizar agora tá? É isso amores, comentem, conversem comigo e tals... AMO vocês e até o próximo post! :**

p.s.: vou responder aos comentários depois tá amores lindos! :**

21 de janeiro de 2014

Capítulo Dez

"Settle down, it'll all be clear. Don't pay no mind to the demons, they fill you with fear. The trouble it might drag you down. If you get lost, you can always be found. Just know you’re not alone, cause I’m going to make this place your home"- Home, Phillip Phillips


- Porque? Porque comigo? O que eu fiz pra eles? - eu perguntava entre soluços.
- Não se culpe por algo que não foi você quem fez. - ele disse baixinho em meu ouvido.
- Mas então porque, Joe? - eu perguntei dessa vez olhando em seus olhos.
- Eu não sei... – disse hesitante, como se doesse falar aquilo.
- Por um momento, pequeno, eu cheguei a esquecer de tudo, mas quando fiquei sozinha naquele quarto, foi como se tudo voltasse. – as lágrimas ainda rolavam pelo meu rosto. – Não quero ficar sozinha...
Joe ficou visivelmente sem saber como agir, mas por fim fechou a porta atrás de si e caminhou comigo até o quarto.
- Fico aqui com você até pegar no sono. – ele disse sentando em uma poltrona próximo a cama.
Balancei a cabeça confirmando e deitei, jogando o edredom por cima de mim logo depois. Mas minha cabeça trabalhava a mil por hora. Não conseguia, nem por um segundo, desligar meu cérebro. De vez em quando as lágrimas me invadiam e a sensação de vazio continuava ali.
- Joe? – chamei baixinho em meio a luz fraca do abajur. – Tá dormindo?
- Não. – ele respondeu simplesmente.
- Não consigo dormir.
- É só fechar os olhos... Não tem erro. – ele disse com o tom de sempre e eu bufei virando-me pra ele.
- Falando assim até parece fácil.
- Mas realmente é...
- Como você consegue? – perguntei intrigada, mas já sabendo que ele não entenderia minha pregunta. De fato, ele fez cara de desentendido e eu completei. – Em um momento você é um amor de pessoa e no outro é um chato!
- O que posso dizer? É um dom. – Joe respondeu como se eu o tivesse elogiado.
Olhei-o incrédula, mas percebi que de alguma forma Joe sempre conseguia me desfocar do que aconteceu. Não sei se fazia de propósito, mas o fato era que sempre me levava a outra direção que não a traição que sofri. Realmente era um dom.
- No que está pensando? – ele quis saber, mas fez a pergunta de olhos fechados e cabeça recostada para trás.
- Em muita coisa... Em nada... – soltei um suspiro pesado antes de continuar. – Na verdade minha cabeça está uma bagunça!
- Não é pra menos...
- Joe? – chamei, mas ele continuou do mesmo jeito.
- Porque você está fazendo tudo isso por mim?
- Você é minha melhor amiga, esqueceu? – ele disse com tom óbvio.
- Mas a gente se conhece a menos de um mês... Como você sabe que pode confiar em mim pra ser sua melhor amiga? – perguntei olhando para ele que continuava de olhos fechados.
- Bom, simplesmente sei... – Joe deu de ombros ao dizer isso. – Tempo nem sempre é proporcional a confiança.
Não ouve maldade, mas ele soube no mesmo instante em que as palavras terminaram de sair de sua boca que talvez tivesse falado demais. Porém antes que ele pudesse dizer algo eu me antecipei.
- Você está certo. Pena que se esqueceram de me avisar sobre isso na escola. – ironizei.
- Certas coisas não se aprende na escola...
Houve uma concordância muda e depois disso o silêncio pairou no ambiente por longos minutos. Não sei quanto ao Joe, mas em minha cabeça várias coisas pairavam. Perguntas como: O que eu faria agora? Como seria minha vida dali por diante? O que esperava por mim pela manhã?
- Joe? – chamei em um quase sussurro e ele apenas resmungou em resposta. – Obrigada.
Ele não respondeu. Depois disso não me lembro de mais nada. Adormeci.

Os primeiros raios de sol atravessaram pelas cortinas me fazendo despertar. Não sabia que horas eram, mas a julgar pela minha rotina não devia passar das oito. Espreguicei-me ainda deitada e passei alguns segundos em relutância para levantar.
Ao sentar na cama e por os pés no chão me dei conta de que não estava em meu quarto e fui atingida pela realidade como um tiro. Como um filme de terror ouvi os gritos de minha mãe, o choro de Angelina e as palavras sem fundamento de meu pai e de Maurício ecoar pela minha cabeça.
Levei a mão ao peito e pressionei como se isso fizesse a dor passar, mas de nada adiantou. Depois a levei a cabeça e sentir a veia da minha têmpora latejar. Eu estava sem rumo e não tinha ideia do que faria, mas de uma coisa eu tinha certeza: Não voltaria mais para minha casa.
- Você está bem querida? – a voz suave de Beatrice invadiu o ambiente e me senti um pouco mais segura só de ouvi-la.
Virei-me para ela que estava encostada da soleira da porta com a mão no peito e com sinais de preocupação na face.
- Não sei. – respondi sincera e soltei o ar pesadamente.
- Joe me contou o que aconteceu antes de sair.
Subitamente olhei para a poltrona onde Joe adormecera na noite anterior e a vi arrumada.
- Ele saiu? – perguntei sem tirar os olhos da poltrona.
- Hoje é o primeiro dia de trabalho dele. – ela disse sorrindo tímida e avançando quarto adentro. – Tem uma mesa com coisas deliciosas esperando por você lá embaixo.
- Não estou com fome.
- Precisa comer. – dizendo isso, Beatrice sentou ao meu lado e começou a afagar meus cabelos bagunçados. – Sei que deve estar doendo... Mas acredite, sempre há como superar.
Beatrice olhou ao redor e esse gesto me fez entender o que ela queria dizer. A dor da perda de sua filha.
- Nunca poderia imaginar... – deixei escapar.
- Você se refere a minha perda ou a sua? – ela perguntou delicada.
- As duas, na verdade. – disse com o olhar baixo.
- Eu também não, querida. – ela disse e deixou a mão suave pousar em meu ombro. – Mas a vida tem dessas coisas.
- Como conseguiu continuar? – levantei meus olhos para perguntar isso.
- Não consegui. – ela disse simplesmente. – E esse quarto é prova disso.
Beatrice riu tristonha e levantou da cama fazendo um último afago em meu rosto.
- Estou esperando lá embaixo.
Ouvi a porta fechar e respirei fundo antes de caminharão banheiro e ver no reflexo do espelho oque restava de mim. Pálida, com uma grande mancha roxa embaixo dos olhos e os cabelos desgrenhados. Desci os olhos para a minha roupa e então me dei conta de que só tinha aquela. Soltei o ar pesadamente em sinal de derrota ao perceber que teria que voltar àquela casa antes mesmo do que eu imaginava.

Continua...

Acalme-se, tudo vai ficar claro. Não preste atenção aos demônios, eles enchem você de medo. O problema pode arrastá-la para baixo. Se você se perder, você sempre pode ser encontrada. Apenas saiba que você não está sozinha, porque eu vou fazer deste lugar o seu lar."

n/a: Atualização, é pra glorificar de pé Igreja!!!  Ok, primeiramente desculpas MESMO c/ a demora na att, eu tive problemas com a faculdade, tinha que ir direto lá p/ resolver e como minha irmã vem bem mostrando nesta fic, desgraça não vem sozinha: o computador da mana deu problema e o capítulo tava lá então passei esse tempo s/ poder fazer muita coisa. Mas águas passadas, cá estou e sério, eu não sei vocês mas eu achei o trecho da música super fofo e super a vê com o capítulo ^^. No mais espero que tenham gostado e já me despeço de vocês, pois a póxima att será feita pela Sammy que já voltou de férias. Bjus no coração e bye :D


4 de janeiro de 2014

Capítulo Nove

All my life, I played like a winner. Now all I see looking back in the mirror, demons in my head. The demons in my head. All this time, the saint was a sinner. The joke's on me, a stone cold killer. Demons in my head. The demons in my head” – Demons, The Wanted.



Eu estava completamente desorientada e chorava copiosamente ao volante. Não sei quem foi, mas Deus abençoe o cara que criou a película para os vidros dos carros, pois isso impediu que muitas pessoas me vissem no estado deplorável em que me encontrava.
Meu celular tocava insistentemente. Horas brilhava com o nome da minha mãe, horas com o do meu pai e diversas vezes com a de Maurício. Nenhuma vez com a de Angelina.
Meu cérebro deveria ganhar um prêmio, porque na ausência de comado dessa que vos escreve, ele decidiu agir por conta própria e acabou por me levar até a casa da senhora Mathews. Demorei pra criar coragem e descer, mas eu precisava de alguém, precisava por tudo pra fora caso contrário eu morreria a qualquer momento com aquela dor. Me olhei no retrovisor e só o que vi foi uma mancha negra embaixo dos meus olhos que estavam muito vermelhos. Tentei melhorar um pouco a situação, mas não sei se adiantou muito. Desci do carro e deixei meu celular lá dentro. Não precisaria dele tão cedo. Caminhei até a porta e toquei a campainha. Esperei. Toquei a campainha novamente e dessa vez não demorou e a porta se abriu.
- Você está muito ocupado? – perguntei, com a voz embargada, a um Joe descabelado e com roupas de dormir.
Ele me olhou de forma surpresa e atônita como se em sua frente estivesse um fantasma. Bom... Acho que a missão "parecer um pouco melhor" tinha falhado.
- O que aconteceu? - ele perguntou me puxando para dentro e fechando a porta.
- Eu... Eu... - não conseguia falar. Colocar isso pra fora em voz alta tornaria tudo irremediavelmente real. Não sei se estava preparada pra isso. No entanto, lembrar as cenas que vi me fizeram cair no choro novamente. Soluços e mais soluços, lágrimas e mais lágrimas. Parecia que nunca ia passar.
Senti os braços de Joe me envolver e a mão dele encostar minha cabeça e seu peito e depois afagar meus cabelos. Isso só fez com que meu choro ficasse ainda mais intenso. Me agarrei com toda a força que tinha á blusa dele e me entreguei de vez ao pranto. Minhas pernas fraquejaram e se Joe não tivesse me segurado, com certeza teria caído e não sei se conseguiria levantar.
- Calma... - ele disse baixinho e, cuidadosamente me encaminhou até o grande sofá de sua sala. Já sentados continuei com a cabeça em seu peito e minhas lágrimas já ensopavam a blusa dele.
Aos poucos o choro foi cessando. Não sei quanto tempo demorou pra isso acontecer. O que sei é que Joseph ficou ali, quieto, apenas me abraçando e silenciosamente dizendo “estou aqui com você.”
- Desculpa...- eu disse com a voz fraca, levantando a cabeça do peito dele e me sentando corretamente no sofá.
Ele sorriu e secou as lágrimas que escorriam do meu rosto. Levantou e foi até a cozinha de onde voltou pouco tempo depois com um copo de cristal cheio de água e me entregou.
- Bebe. - ele disse docemente e sentou ao meu lado de novo. Eu fiz o que ele disse e, ainda tremendo, tomei todo o conteúdo liquido do copo. - Agora respira fundo e me conta o que aconteceu.
- Minha vida... Toda a minha vida é uma grande mentira. - eu disse e me obriguei a não chorar de novo. Joe não disse nada o que me fez entender que ele apenas me ouviria antes de dizer qualquer coisa. - Quando você me ligou hoje eu estava a caminho do escritório do meu pai e ao chegar lá e entrar na sala dele eu o vi aos beijos e amassos com minha suposta melhor amiga! Então, depois do choque, decidi que contaria tudo a minha mãe e voei até em casa, apenas pra descobrir que minha mãe também traia o meu pai. - fiz uma pausa e olhei pra Joe que estava concentrado em tudo o que eu dizia. - Com meu noivo.
- Uau! - foi o que ele disse e depois soltou um suspiro pesado. - Desculpa... - Joe sussurrou essas palavras e eu o olhei com cara de interrogação. - Você estava me ligando e eu não atendi. Desculpa por isso...
Eu sorri minimamente e balancei a cabeça como que diz "esquece isso".
- Vou fazer um chocolate quente pra você. - ele disse e pôs-se de pé.
Estranhamente ele parecia não ter dado bola pro que eu havia dito. Será que tinha sido clara o suficiente?
- Não precisa... - eu disse com a voz fraca e acenei com a mão. Mas ele não me deu ouvidos e caminhou até a cozinha. Eu respirei fundo e o segui.
- Joe - eu o chamei enquanto me sentava em uma cadeira próximo a bancada. Ele resmungou algo como "hm". - Você realmente ouviu tudo o que eu disse?
- Bom, a ultima vez que fui ao otorrinolaringologista meus exames estavam perfeitos. - ele respondeu dado de ombros e eu revirei os olhos. Será que ele não levava nada a sério?
- Então porque parece que não acabei de te contar tudo o que te contei? - perguntei com a voz um pouco irritada.
- Que reação você esperava de mim? - ele virou-se pra mim ao perguntar isso, depois de ter acendido o fogo em baixo da chaleira com água. Eu nada respondi. - Queria que eu tivesse ido atrás do seu pai e quebrado a cara dele e depois a do seu noivinho?
- Não! - eu exclamei com o cenho franzido.
- Queria que eu dissesse que tudo vai ficar bem, que isso é normal e depois passa? - ele disse com a expressão séria. - Desculpa, mas eu não costumo mentir.
Fiquei em silêncio. Nos apenas sustentamos o olhar um do outro. Por fim ele deu um longo suspiro e fitou o chão por alguns longos segundos.
- Eu te conheço há poucos dias, Demetria, não sei nada da sua vida, mas pelo o que você e minha mãe contaram ela parecia perfeita. - ele disse enquanto caminhava até perto de mim e segurava minhas mãos. – Eu nem consigo imaginar o quanto está doendo, mas eu nada posso fazer pra impedir essa dor porque ela faz parte da situação. Mas eu posso te fazer um chocolate quente e te dar meu ombro pra chorar.
Eu não podia acreditar que aquelas palavras estavam saindo da boca dele. Como ele podia ter o texto certo para aquela situação? Foi estranho, mas naqueles breves minutos em que nossas mãos ficaram unidas, a dor pareceu nunca ter existido.
- Eu, tenho que ir... – disse depois de largar as mãos dele e parecer sair de um transe. - Preciso procurar um hotel pra passar a noite. Não tenho estômago pra entrar na minha casa agora...
- Então, nem precisa se mexer daí - ele disse e, depois de servir os chocolates nas canecas me entregou uma e me puxou pela mão escada a cima. - Você pode ficar aqui hoje. Ou o quanto quiser...
Joe abriu uma porta que ficava ao fim de um corredor e me permitiu ver um quarto inteiramente rosa, com prateleiras cheias de bonecas de pano e de porcelana. A cama estava coberta com uma colcha de poá rosa e branco e em cima dela havia mais duas bonecas, ambas de pano.
- Não sabia que a senhora Mathews tinha uma filha. - eu disse enquanto caminhava até a cama e segurava uma das bonecas em minhas mãos.
- Minha irmã não viveu mais que seis anos. - ele disse olhando para mim e eu não pude evitar a surpresa com o que foi dito. - Sophie, era o nome dela.
- Como ela... - não consegui terminar a frase, mas Joe entendeu o que eu quis perguntar.
- Acidente de carro. - ele respondeu. - Depois disso, minha mãe entrou em depressão e meu pai não segurou a barra e se separou. Ela mudou pra cá e achou melhor eu ficar com ele em Londres. E o resto da história você sabe.
- Ela nunca me contou sobre isso. - eu disse baixinho, mas pra mim mesma que pra ele. - Será que ela não vai se importar?
- Tenho certeza que não. - ele disse e piscou pra mim sorrindo minimamente. - Vou pegar uma blusa minha e toalha pra você. Volto em um minuto.
Acenei com a cabeça e sentei na cama. Não soube explicar, mas estar ali naquele quarto depois de saber aquela história me fazia sentir menos mal. De certa forma, me senti protegida ali. Não demorou muito e Joe voltou com as coisas e me entregou.
- Sua mãe vai demorar? - eu perguntei, dando um gole no meu chocolate que a essa altura não estava mais tão quente.
- Ela deve chegar só de manhã. Porquê? - perguntou com uma cara de desconfiado.
- Nada, apenas pra saber... - disse dando de ombros.
- Bom, Demi, vou te deixar à vontade... Se precisar de qualquer coisa, meu quarto é bem em frente ao seu.
Sussurrei um obrigada e o acompanhei com o olhar até que ele fechasse a porta. Respirei fundo, mas ao fechar os olhos as imagens voltaram a minha cabeça, me fazendo lembrar tudo, inclusive da dor. As lágrimas vieram rápidas e traiçoeiras, eu mal tive tempo de pensar em controlá-las. Senti o peito apertar ao mesmo tempo em que uma dor aguda se apossava dele. Eu estava sozinha.
Ao abrir os olhos vi as paredes se aproximando de mim, prestes a me esmagar. Por mais que tentasse não conseguia respirar, pois o ar parecia cada vez mais escasso. Levantei da cama na tentativa desesperada de sair dali, mas era como se minhas pernas não obedecessem meu comando.
Quando finalmente consegui sair do quarto, bati desesperadamente na porta de Joseph. Assim que o vi, não deixei nem que falasse e o abracei, tão forte que achei que fôssemos fundir. Ele acariciou meus cabelos e me apertou contra ele também. Eu nunca me senti tão segura. Era estranho se apegar a alguém que você mal conhece, mas me parecia fácil e natural confiar em Joe. Confiar. Será que algum dia eu realmente voltaria a saber o que eu essa palavra significa? 

Continua...

* "Toda a minha vida eu joguei como um vencedor, agora tudo o que vejo no espelho, demônios na minha cabeça. Os demônios na minha cabeça. Todo esse tempo, o santo foi um pecador. A piada está em mim, um assassino frio de pedra. Demônios na minha cabeça, demônios na minha cabeça."


n/a: Oi!! Me apresentado aqui no blog, eu sou a Sahmira, irmã da Sammy (e a culpada pelas inúmeras citações de músicas do The Wanted nas fics dela, inclusive a desse capítulo, que é uma das melhores do novo cd deles ^-^). A mana viajou mas deixou 2 cap. p/ eu postar por ela e tá aqui um deles, se quiserem comentar eu agradeço e respondo viu amadas, e se alguém quiser seguir meu fc é @herewithtw. Enfim, espero que gostem da att, bjus e até a próxima ^-^.